segunda-feira, 19 de julho de 2010

Do ultimo fim de semana

Não lido bem com a morte, simplesmente bloqueio. Não sei o que fazer, o que sentir. Tenho dificuldade em chorar mesmo que tenha vontade. Sei que tenho uma limitação, algum dia tenho de tratar dela. Não foi este fim-de-semana...
Sempre fui muito ligada á minha avó, passei lá quase a minha infância, tenho montes de recordações.
Nos últimos anos custava-me visita-la, principalmente no ultimo. Via-a bastante limitada, a morrer aos pouquinhos e não soube lidar com isso. E sei que é errado e que é nesta altura que as pessoas mais precisam de apoio, mas eu inconscientemente afasto-me.
Inventava desculpa para não ir lá, nunca arranjava tempo e mesmo quando a ia “visitar” pouco tempo passava com ela.
Esta semana foi a última semana dela aqui na terra, não me despedi, não a fui visitar uma última vez, porque “nunca arranjei tempo” porque “era longe”.
Sei que teve uma vida boa, uma vida feliz, serena e com muita gente que lhe queria bem.
Eu fico com as boas recordações, as imagens dela cheia de genica.
Fico com os refrescos de café mal chegava da escola, do pão com manteiga aquecido nos bicos do fogão, das batatas fritas, ovos estrelados e salsichas sempre que chegava da escola e do bacalhau á espanhola.
Do leite-creme que nunca ninguém fez igual, dos natais em família com a mesa cheia. Das vindimas onde todos participávamos, do jardim onde cresci, onde apanhava couve e os ovos das galinhas (apesar do meu medo).
Fica a lembrança dos gelados comprados na “Bela”, das idas á “Quinta”, das roupas todas metidas em sacas plásticas sempre que me chateava com ela, onde a chorar dizia que ia para casa, mesmo sem saber o caminho. Dela a correr atrás de mim pela ilha a dizer para eu não ir. Dos S. João onde enfeitávamos as ruas com balões feitos de jornal, e substituíamos a cola por farinha e agua. Dela a dizer q eu era a neta favorita porque era a mais “pequenina”. E tantas outras coisas.
A ultima recordação que tenho dela? Não é a do último fim-de-semana, não é a da última vez que a vi. A última recordação, a que quero gravar na minha memória é dela sentada no cadeirão á porta da casa, mesmo ao pé do tanque, morena com o sol que apanhava todos os dias. Com um sorriso nos lábios sempre que me via surgir.

Sem comentários:

Enviar um comentário