quarta-feira, 7 de abril de 2010

Mariana!


Lembro-me como se fosse hoje do primeiro dia que te vi, a Mãe trouxe-te para casa numa tarde chuvosa de final de Novembro.
Vinhas embrulhada nuns trapos que estavam atirados para a mala do carro, eras tão feia, mas tão feia parecias um ratinho. E cheiravas incrivelmente mal. Disse mais tarde a Mãe que era dos teus manos que já se encontravam em decomposição quando a Mãe te encontrou.
Foste a única sobrevivente dá malvadez de algum humano (se assim se lhe pode chamar) que te atirou mais aos teus manos vivos para a meio das silvas num saco plástico fechado.
Sempre foste forte, ainda hoje o és do alto dos teus respeitáveis 14 anos.
Demos-te banho, e foi nesse preciso momento que me apercebi o quando já te amava, desmaiaste-nos nos braços de tão fraca que estavas. Que susto que apanhamos, achamos que te tínhamos perdido, pouco depois de entrares na nossa vida. Felizmente, a Mãe tinha ido comprar comida para ti, e despertaste novamente só com o cheiro.
Nunca vi ninguém com tanta fome, com tamanho desespero e isso, e toda a história que envolveu o teu aparecimento na nossa vida, me faz até hoje rogar pragas ao tal humano que te fez sofre tanto com tão poucos dias de vida!
“Não é para ficar cá em casa, é apenas um gatinho que vamos ter no jardim, que vamos alimentar até ter forças suficientes para sobreviver sozinha”. Esta era a ideia inicial da Mãe, como estava ela enganada, como era possível resistir-te? Já tinhas entrado na nossa vida e nos nossos corações para sempre! Eras, e és ainda, um doce, tens o olhar mais meigo do mundo, e agradeces, ainda hoje tudo aquilo de bom que te damos. Durante antes, nunca comeste sem te ser dada permissão, nunca comeste fosse o que fosse sem primeiro nos lamberes as mãos em agradecimento. Ainda hoje, ao fim de mais de 14 anos agradeces cada mimo que te damos, e olha que te damos muitos.
Nunca estragaste nada, nunca roubaste comida, nunca arranhaste ninguém.
Lembro-me, eras tu ainda uma gatinha, e as vizinhas apanharam-te, não para te fazer mal, mas para brincarem contigo, puseram-te fraudas, totós, laçarotes e perfume. Quando te encontramos tremias de medo, estavas tão assustada que fizeste chichi por ti abaixo, mas ainda assim foste incapaz de as arranhar.
Lembro-me do dia em que foste operada, chegamos a casa ainda estavas com efeito da anestesia, deitamos-te na cama da Mãe porque era mais baixinha e ficavas mais confortável, não precisavas de fazer tanto esforço para te levantar. Pusemos uma capa impermeável a contar com eventuais deslizes, completamente compreensíveis. Distraímo-nos, quando demos por ti já tinhas saído da cama e vinhas a arrastar-te na tentativa de chegares ao teu cestinho da areia, mesmo quase inconsciente foste um amor de gata.
Lembro-me de fazer o teu curativo, nunca nada me custou tanto, ver-te em tamanho sofrimento, choramos contigo, partilhamos contigo cada dor. Acredita que a mim me doeu tanto quanto a ti.

Lembro-me da única vez que chorei á tua frente, não me lembro o motivo, mas lembro-me de saltas-te para o meu colo e instintivamente me limpaste a lágrimas. Durante dias nunca me deixaste sozinha, não fosse eu voltar a chorar.
Mais tarde adoptamos mais uma gatinha, para te fazer companhia, não gostaste muito dela, incrivelmente depois de uma conversa (vá monólogo) com a Mãe onde a mãe te explicou que também a gatinha ficara sem mãe, que estava sozinha no mundo e precisava de nós também tu a adoptaste. Levaste-a para o teu ninho e passados 7 anos ela nunca mais de lá saiu.
Quando vim na nova aventura para Lisboa, vieste comigo, mudaste os teus hábitos, os teus cheiros, mas nunca reclamaste, sempre te sentiste bem, como se desde que tivesses comigo a tua casa era indiferente.
Infelizmente tiveste que voltar para casa da Mãe. Porque não podíamos de forma nenhuma abandonar o Guibbo, e ele não gosta muito de gatos. Gostou-me e custa-me como tudo. Não que estejas mal em casa da Mãe, nada disso, mas porque queria ter-te (ter-vos) a meu lado.
Nesta fase da tua vida queria estar aí a dar-te miminhos, e para variar ser eu a apoiar-te. Custa-me mais que tudo quando a Mãe me liga e me diz “ A Mariana hoje teve mais um ataque”. E a minha vontade é pegar no carro e voltar para casa, voltar para o pé de ti puder agarrar-te nos meus braços e proteger-te. Infelizmente não posso.
Sinto que te abandonei, que te descartei, como muitos humanos fazem aos seus idosos.
Sinto todos os dias que estou em falta contigo.
Fazes parte da minha vida há já 14 anos, e tiveste sempre lá.
Este sábado vamos ao médico, ver o que ele diz. Nunca tive tanto medo, ando com o coração apertadinho, já não me lembro de dormir uma noite descansada.
Nunca pensei que pudesses ser um gato velhinho, nunca deixo que ninguém o diga quanod se refere a ti. Fico mesmo chateada quando o J. te chama carinhosamente de “velhota”. Nunca notei as tuas limitações.
Ultimamente, vejo que estás mais quieta, não saltas para os mesmos sítios, já não teus a mesma agilidade e parte-me a coração. Não sei o que seria da minha vida sem ti, nunca imaginei, todo o meu crescimento foi contigo ali, partilhei contigo quase todos os momentos mais importantes da minha vida.
Sei que não me vou perdoar se algum dia te acontecer algo e eu não estiver aí para te apoiar, para te dizer adeus e obrigado por teres entrado na minha vida, pela última vez. Sei que provavelmente isso vai acontecer, e não sei como vou viver com isso.

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